[Resenha] As Brasas

AS BRASAS

Autor: Sándor Márai | Ano: 1999 | Páginas: 176
Editora: Companhia das Letras | Skoob




Esta foi a primeira obra que li de Sándor Márai e, de pronto, já digo que não me decepcionei. É um texto intenso e avassalador, que não conclui todas as especulações, mas levanta inúmeras discussões sobre amor, amizade e ética, no tocante à fidelidade nas relações.



O cerne da história é a abalada amizade entre o general Henrik e Konrad; criados juntos, como irmãos, e separados há 41 anos, após a repentina saída de Konrad, do local em que viviam.



O general recebe uma carta do amigo avisando que está retornando e que irá visitá-lo. A notícia promove uma verdadeira ebulição em seu coração, revirando sentimentos há muito tempo adormecidos, mas não apagados.

Tudo no castelo do general Henrik está disposto como no passado, no tempo em que Konrad o frequentava; a exceção de um quadro que fora retirado da parede, por ordem do general. A governanta, mais senil que o dono do castelo, o questiona sobre recolocá-lo em seu lugar, mas o general ainda não está pronto para isso.



As lembranças vêm à mente de Henrik como uma correnteza invencível. A infância dos amigos, então inseparáveis, corre como a água límpida de um ribeirão, na memória irreparável de um homem que nunca esqueceu o passado.

A afinidade de Konrad com sua mãe, também afeto às artes e às atividades que exigem maior sensibilidade, foi alvo das recordações do general, apesar dos dois terem frequentado a escola militar, fato que cobrou grande sacrifício de Konrad.

Mesmo diante de tantas memórias o que mais perturbava ao general era a repentina saída do amigo do seu convívio. Não lhe deu explicações, mas transformou sua mente em um terreno fértil para inúmeras especulações sobre o motivo.

As coincidências lhe perturbavam, e corroeram seus sentimentos por 41 anos. Perdeu o grande amigo e minou o próprio casamento; amargurado, ficou preso ao passado e se enterrou no castelo.



Agora ele terá a chance de fazer todas as perguntas, de cobrar inúmeras explicações. O nó em sua garganta enfim poderá ser libertado, as correntes vão se quebrar. A ansiedade sobre a chegada do amigo é incontrolável, mas o castelo já está pronto para recebê-lo. Então ele chega à porta.

A história de Márai nos faz viajar pela mente do narrador. Ficamos oscilando expectantes sobre várias possibilidades, sobre um amor que une e separa ao mesmo tempo.

Quase como um monólogo, mas não monótono, o texto é como um namoro à moda antiga, que quer se entregar, que deseja, mas não permite tudo antes do casamento. É uma forte história à frente do seu tempo.




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