[Resenha] Tambores à Distância

TAMBORES À DISTÂNCIA

Joe Mulhall | Editora Leya | 288 páginas | 2022
Recebido em parceria com a Editora

Joe Mulhall nos traz um relato assustador e impactante sobre movimentos e grupos supremacistas, xenófobos, neonazistas, extremistas em geral, com uma visão interna, a partir das infiltrações que realizou e experiências como integrante de uma instituição de combate às ações de extrema direita.

O autor inicia com o monitoramento de grupos no Reino Unido que hostilmente pregam o não recebimento de estrangeiros, com uma atuação ainda mais virulenta direcionada à comunidade muçulmana.

Ele atuou de forma a mapear esses extremistas, registrar o planejamento das ações e expô-los publicamente, com o objetivo de desarticular esses movimentos. Muitos foram os êxitos da sua organização nessa parte da Europa.

Nos Estados Unidos, em viagem para analisar supemacistas brancos, se instalou no deserto, em um acampamento onde esse grupo armado fazia vigílias na fronteira, tendo por objetivo capturar imigrantes. Este foi um dos momentos mais tensos do seu trabalho, já que não poderia levantar suspeita: o ambiente era muito isolado, as pessoas violentas e hostis, com várias teorias de conspiração em mente. 

Mas Joe percebeu que estava ocorrendo certa “globalização” desse comportamento extremista, já que em muitos outros países determinados grupos vinham se organizando, até politicamente, com pautas discriminatórios, acirrando a violência e segregação do próprio povo. 

Também viajou para a Índia e testemunhou o sofrimento, a angústia de cidadãos legítimos que agora tinham a obrigação de comprovar que seus pais haviam nascido lá. Os problemas documentais eram diversos, pela própria precariedade  institucional do lugar. No entanto, tudo isso era um pano de fundo para esconder o viés discriminatório, étnico e religioso, que verdadeiramente era a razão das medidas tomadas por Narendra Modi, primeiro ministro indiano.

Joe Mulhall desejava muito, também vir ao Brasil, que de maneira bem parecida à de Trump, nos EUA, havia ganhado visibilidade política com um discurso agressivo e segregacionista, e ascendido, pelas eleições, ao cargo de presidente do país, no entanto, com o agravamento da pandemia de coronavírus, não foi possível realizar esta viagem. 

A proliferação de desinformação, teorias conspiratórias das mais diversas, a atribuição de culpa sobre questões econômicas às migrações populacionais e tantas outras questões são realidades no discurso de ódio de muitos líderes de diferentes nações. Eles usam a frustração, a miséria e mesmo o sentimento de ódio que eventualmente exista nesses grupos, como motor para o desenvolvimento da política da brutalidade e do menosprezo ao outro, ao diferente. O diálogo e o debate de idéias deixam de ser ferramenta de negociação e convencimento e passam a vigorar os mecanismos de destruição do adversário.

Essa leitura é mais que necessária, é imprescindível, já que entender o porquê desses movimentos estarem ganhando adesão é o primeiro passo para tentar revertê-los. 



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