Em 2016 me aventurei pelos perfis psicológicos dos personagens de Dostoiévski, através da fantástica obra “Crime e Castigo". Foi uma experiência inigualável que me levou a voltar mais atenção às obras russas, carregadas do poder de desnudar a alma humana, por vezes tão mascarada e adepta de mentiras. Sua narrativa nos mergulha no universo íntimo da mente.

Agora, com a Graphic Novel da Leya, pude experimentar novamente a sensação de absorver toda a angústia e o conflito dos pensamentos de Rodion, rapaz pobre que desistiu dos estudos e passa a perambular pela cidade, se iludindo sobre sua pretensa superioridade.

Sua mãe, crendo que ele ainda estuda, faz todo o esforço possível, diante da pobreza em que vive, para enviar ao rapaz algum dinheiro que o sustente e possibilite se formar. Rodion passa utilizar os serviços de uma velha agiota, para ter algum valor em mãos. No entanto, a velha sempre subestima o valor daquilo que ele empenha, causando no rapaz tamanha aversão à figura dela que o leva a cometer um horrendo crime: assassiná-la com um machado.

Depois dessa atitude impulsiva e destemperada, Rodion passa a ser torturado e perseguido por sua própria consciência, sendo essas sensações o ponto forte do enredo, e muito bem trabalhado pelo autor.

Na forma de quadrinhos, podemos ir além do que nossa mente é capaz de imaginar. As ilustrações capturam toda a tensão dos acontecimentos e a dramaticidade da trama.

A edição da Leya é um presente para os apaixonados por ilustrações e por clássicos da literatura. Talvez seja uma boa maneira de iniciar os leitores nas histórias mais densas, despertando um interesse, muitas vezes, ainda não descoberto. 

Parabéns à editora pela iniciativa e pela escolha do título. Para mim, uma das melhores história que já li.