Tive grande satisfação com a leitura do livro de Patrícia Melo, autora que não conhecia, mas que já me proporciona orgulho na literatura nacional.

Perspicaz no desenvolvimento da temática social, retratando as dificuldades de diversas classes sem caricaturar nem repetir clichês.

Dependentes químicos, transexuais, sem tetos, empresários falidos, moradores de rua: todas essas vozes ecoam nessa maravilhosa obra sobre a desigualdade social e a diversidade.

A autora escancara uma série abandonos dos quais são vítimas os mais fracos e também as políticas públicas insuficientes ou inexistentes para, minimamente, equilibrar as chances de todos os cidadãos prosperarem e terem suas necessidades, na esfera da dignidade, atendidas.

Toda essa abordagem não é feita como um estudo sociológico, e sim através da história de vida de cada personagem, sobre o drama e as frustrações de cada um, seus tropeços e a inércia do poder constituído em dar resposta diante de sofrimentos escandalosos, como a fome, a violência ou a falta de moradia.

Nessa história, ninguém é tratado como “anjinho”, mas como um ser humano que merece respeito e visibilidade. São figuras do cotidiano que erram e acertam, mas que, como a maioria, é tratada como escória a ser expurgada do convívio social, por não se enquadrarem ou submeterem ao moldes comportamentais estabelecidos pela tal “elite” brasileira.

Tem travesti espancada, tem ocupação esvaziada na bordoada. Criança separada dos pais e policial corrupto que integra grupo de extermínio. Tem gente que caiu na rua e conta moeda pra comer, num sistema de acolhimento desumanizado. Tudo isso ainda mais potencializado por um governo declaradamente simpático à violência, à brutalidade e ao individualismo, além da pandemia.

Um livro pra nos emocionar e, principalmente, nos indignar, com os outros e consigo mesmo, pois todos nós temos algo a aprender. Por isso há necessidade de enxergarmos aos outros pela lente deles, por suas histórias e angústias. Patrícia de Melo deu voz a eles.

Recomendo e muito essa leitura!