[Resenha] Complexo de Vira-Lata

COMPLEXO DE VIRA-LATA - Análise da humilhação colonial

Marcia Tiburi | Civilização Brasileira | 196 páginas | 2021
Recebido em parceria com a Editora

Observamos, incessantemente, na sociedade brasileira, a reprodução de comportamentos de assustadora subserviência e falta e empatia, associados a sentimentos de adoração e até idolatria por aqueles que, claramente, buscam destruir ou impedir a capacidade do indivíduo de desenvolver, por si próprio, pela instrução educacional e científica, além de suas experiências pessoais, o senso crítico e a capacidade de racionalizar os fatos que se desenvolvem ao seu redor.

“A humilhação mata alguma coisa em nós, por isso podemos dizer que ele é o primeiro grau da eliminação de alguém; o assassinato é o último grau.”

“Contudo, há muitos que se regozijam com a barbárie, pois a maldade, a injustiça, o sofrimento alheio, o ódio trazem diversas compensações emocionais.”

Essa cultura política e social nos mantém reféns a um sentimento de merecimento de toda a desgraça e desorganização a que somos submetidos todos os dias, desde o início da colonização; ou seja, as raízes desse drama de subvalorização da cultura dos povos originários, dos hábitos afrodescendentes trazidos pelos escravizados, a sufocação dos ideais e aspirações femininas, entre tantas outras repressões, provavelmente advém de há muito tempo.

“Colonizados são aqueles que perderam suas formas de ser e de viver para a colonização. Para obter êxito, a colonização se impõe por meio de figuras poderosas, canônicas, sacerdotais especializadas em colocar a si mesmas e os seus interesses como a verdade a ser seguida.”


A autora dessa obra, Marcia Tiburi, traz de uma forma bem clara e sistemática, o levantamento histórico e comportamental de um sistema ou método, desenvolvido pela elite financeira e capitalista, que, por meio da humilhação e da destituição da personalidade dos indivíduos, que formam a massa nada abastada da sociedade, exerce a dominação e o total controle dos desejos e do consumo dessas pessoas.

Somos levados, desde sempre, a nos envergonhar das nossas características, dos nossos hábitos, dos nossos conhecimentos, a benefício do estabelecimento hegemônico do que é europeu, estrangeiro, e, intrinsecamente ligado aos padrões daqueles que são detentores do poder. Nossas aspirações devem ser as que eles nos levam a acreditar serem as melhores, mesmo quando inalcançáveis.

“É a lógica da inversão do sentido, pela qual indígenas são tratados como intrusos e como excrescências corporais e culturais. Pela mesma lógica, mulheres são tratadas como intrusas na política. Essa lógica é falaciosa em si mesma, mas é a lógica da invasão e da colonização que define a relação entre os poderosos e os sem poder, entre invasores e invadidos.”

Esse livro é um desvelar da razão de muitas angústias que estão dentro de nós sem sabermos a origem. É a ampliação do alcance da visão além do escudo colocado entre o que parece e o que pode ser.




 

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