[Resenha] O Eterno Marido

O ETERNO MARIDO

Fiódor Dostoiévski | Nova Fronteira | 176 páginas | 2021
Recebido em parceria com a Editora

Sinto-me, sempre, um pouco mais “iluminado” ao terminar uma obra de Dostoiévski; e confuso também. Não que esse fantástico escritor não se faça claro por seus enredos, diálogos e percepções, mas pelo incrível poder que ele tem de entrar em nossa mente e remexer a nossa alma.

Sempre muito perspicaz em delinear as mais variadas personalidades, a história de O Eterno Marido não foge a mais apurada competência desse mestre. É a saga de dois homens que se vêm na obrigação de passar a limpo uma grave afronta do passado; se estudando e testando os nervos, um do outro e vice-versa, como dois animais concorrentes. Mas não pense que possa haver alguma baixaria nos conflitos de Dostoiévski, pois até para ofender há classe em seus diálogos.

Veltchaninov é um homem de meia-idade que anda absorto em uma pendenga jurídica por conta da disputa de um imóvel. Sempre distraído, quase não percebe estar sendo seguido por outro com veste de luto, não fosse a insistência do estranho. Mas a sensação que lhe vem do íntimo é do tal não ser tão estranho assim, descobrindo, quando o enlutado se põe prostrado em sua porta, se tratar de Pavel.

Pavel conviveu com Veltchaninov durante um bom tempo. Veltchaninov estava fora de sua cidade e frequentava a casa de Pavel constantemente. Mas não apenas se instalou na casa dele, como se tornou amante da esposa, bem debaixo das barbas do marido. Pavel veio informar que a sua esposa havia falecido.

“Mas, afinal de contas”, disse consigo, “será só isto? A insistência dele não esconderá uma cilada? Pavel contará mesmo com minha generosidade?” Esta suposição pareceu-lhe realmente injuriosa. “Que é esse tipo? Um farsante, um imbecil, um eterno marido? Ora! Não é possível!...”



A partir daí a história começa a ficar tensa, sob o sentimento de culpa de Veltchaninov e o comportamento enigmático e vexaminoso de Pavel, que todo momento o constrange, pela embriagues; e o tortura, por não deixar claro se soube ou não do caso extraconjugal da falecida esposa.

“- Está vendo esse homem? - bradou o adolescente a Veltchaninov, já incapaz de conservar seu tom indiferente. – não lhe basta que o escorracem de lá, mostrando-lhe um palmo de língua! Quer ainda levar mexericos ao pai!”

Outros segredos tristes também são revelados, mas o que mais atormenta é a constante variação de sentimentos entre os personagens, e a sensação de um inevitável destino para ambos, o eterno fado.






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