[Resenha] No Domínio de Suã

NO DOMÍNIO DE SUÃ

Milton Coutinho | Editora 7Letras | 324 páginas | 2020
Recebido em parceria com a Oasys Cultural


Nesta obra Milton Coutinho nos presenteia com uma forte história que escancara diversos problemas presentes na sociedade carioca, mas também em várias partes do Brasil; nossa hipocrisia crônica e conveniente diante das mazelas sociais e éticas, que constantemente retardam ou nos impedem a evolução moral e cultural.

O narrador-protagonista, Marcel, começa caracterizando sua família, o poder psicológico que as mulheres tentam exercer para direcionar os rumos da genealogia.

Marcel tenta por muitas vezes deixar aflorar em sua personalidade a força e decisão que ele crê serem necessárias para o desenvolvimento de um grande homem, mas a tarefa parece nunca verdadeiramente ser cumprida. Com uma autoconfiança diminuta e um tempo de decisão fora de sincronia, o protagonista se sente sempre aquém das próprias expectativas sobre a construção da sua história.

Marcel casa-se, mas se sente incompleto; com dificuldades para terem um filho decidem adotar. Cruza pelo caminho deles o garoto Braz, menino negro, agora adotado por um casal de brancos da classe média do Rio.

Braz tem uma personalidade decidida, com forte bom senso, que intriga o pai. Mas graves tragédias acabam por assolar a família e evidenciar toda a indecisão e até a covardia de Marcel, que terá de lidar com suas fraquezas.

Ele acaba se “exilando” em Portugal, como que para estabelecer um recomeço, mas sua mente não se liberta dos fantasmas e das lembranças da vida derrotada no Brasil.

Retornando à terra natal, Marcel passa a ter uma vida totalmente diferente de antes, num ambiente bem fora do que lhe era comum. E esta passa a ser sua busca por novos sentimentos que nem ao menos ele sabe a onde o levará.





A narrativa é repleta de citações e referências que enriquecem a história. Os eventos são fortes, às vezes chocantes, mas totalmente contemporâneos, nos trazendo à realidade, muitas vezes ignoradas ou normalizadas.

Uma grata satisfação foi essa leitura, que me envolveu num caldeirão dos mais diversos sentimentos. Suspense, terror, drama e toda uma habitualidade popular, culturalmente aceita, tolerada e até cultuada, que ao ser descrita e desnudada choca. Milton Coutinho é inciso e ágil; escreve sem medo de escandalizar com a verdade e captura o leitor, que não terá a menor ideia de onde vai chegar.




 

Nenhum comentário

Não saia sem deixar um recadinho pra nós!