[Resenha] A Peste

A PESTE

Albert Camus
Editora Record | 2017 | 288 páginas

Em alguns momentos, fiquei na dúvida se o timing para a escolha desse livro tenha sido bom, já que se parece demais com o que estamos passando agora. Mas, fazia um tempo que eu gostaria de ler desse autor e a hora seria essa mesmo.

A obra de Albert Camus foi publicada em 1947 e conta a história de uma epidemia que assola Oran, pequena cidade argelina, cujos habitantes viviam uma vida monótona até o flagelo dizimar uma porcentagem da população. 

Foi assim, por exemplo, que, a partir das primeiras semanas, um sentimento tão individual quanto o da separação de um ente querido se tornou, subitamente, o de todo um povo e, com o medo, o principal sofrimento desse longo tempo de exílio. 


Oran vive de forma rotineira, sem grandes devaneios e toda essa paz e estabilidade acaba quando de um momento para o outro, ratos aparecem mortos em todos os cantos da cidade. E sem mais, eles acabam por desaparecer por completo e pessoas doentes começarem a surgir. A morte se faz presente entre os moradores e todos ficam aterrorizados pelo isolamento e todo caos e tensão que surgem. 

O que restaria de Oran quando e se a peste fosse vencida?


Os efeitos da epidemia são muito semelhantes aos acontecimentos que passamos em nossos dias atuais, até mesmo a reação dos personagens, medidas tomadas e o alastramento da doença. E confesso que devido a tudo isso, não é uma leitura muito fácil. 

Ninguém aceitara ainda verdadeiramente a doença. A maior parte era sobretudo sensível ao que perturbava os seus hábitos ou atingia os seus interesses. Impacientavam-se, irritavam-se e esses não são sentimentos que se possa contrapor à peste. 

Só que há algo a mais nessa leitura, na verdade, muito mais que uma cidade tomada pela peste, o livro de Camus é uma alegoria da ocupação nazista, uma alusão a qualquer regime totalitário. Com o estado de sítio em Oran, o autor faz uma crítica e evidencia um dos persoanagens, o jornalista Raymond Rambert, como a representação do bloqueio da liberdade de imprensa. 

Já não havia então destinos individuais, mas uma história coletiva que era a peste e sentimentos compartilhados por todos.


A peste é um livro intenso! A narrativa explora muito dos sentimentos e emoções do ser humano, e também, a mudança de valores diante de uma situação de impotência. Principalmente no que diz respeito a exclusão da liberdade.

Na lembrança dos sobreviventes, os dias terríveis da peste não surgem como chamas grandes e cruéis, e sim como um interminável tropel que tudo esmaga à sua passagem. 

Inevitavelmente, não vamos somente comparar a epidemia aos dias de hoje, mas também a fatos políticos ocorridos no mundo. 

Apesar de não ter sido uma leitura muito fácil, pois meu emocional não está dos melhores com tudo que estamos passando e confesso que também tive o receio de ser uma leitura muito filosófica e rebuscada, mas isso não ocorreu, quando o narrador começa a descrever a cidade e os acontecimentos, a escrita flui de forma bastante rápida e tão logo me vi imersa na história. 

Essa foi minha primeira experiência com Albert Camus e não poderia ser melhor, pela escrita brilhante e as reflexões trazidas. Quero ler mais de suas obras!

Indico e muito!





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