#12MesesComClarice | Gertrudes Pede Um Conselho

Olá, pessoal!! Como estão?

Hoje é dia do projeto maravilhoso #12MesesComClarice2019, do qual participo com os blogs amigos: Café com Leiturada Ana, blog Sobre a Leiturada Amanda Leitura Enigmática, do Gustavo.

O conto desse mês é "Gertrudes pede um conselho". Vamos falar um pouquinho sobre ele?




[...]

“Libertar” era uma palavra imensa, cheia de mistérios e dores. Como fora amena há dias, quando se destinava a outro papel? Outro, qual? Tudo era confuso e só se exprimia bem na palavra “liberdade” e nos passos pesados e firmes, no rosto fechado que adotava. À noite não dormia até que os galos longínquos começassem a cantar. Não pensava, propriamente. Sonhava acordada.

O conto traz como personagem uma adolescente no auge de suas indecisões e diante disso ela vai à procura de uma psicóloga para ajudar no esclarecimento de seus problemas.

Parte da história se passa enquanto ela aguarda ser atendida. Tuda reflete sobre sua vida, suas irmãs e o quanto já se sentiu angustiada diante da vida, pensando até em cometer suicídio.

De fato, nos últimos tempos, Tuda não passava nada bem. Ora sentia uma inquietação sem nome, ora uma calma exagerada e repentina. Tinha frequentemente vontade de chorar, e o que em geral se reduzia à vontade apenas, como se a crise se completasse no desejo. Uns dias, cheia de tédio, enervada e triste. Outros, lânguida como uma gata, embriagando-se com os menores acontecimentos.


Antes de ir em busca da "doutora", Tuda escrevia cartas, dizendo o que passava e o que sentia. E agora, ali estava sua chance de mudar tudo.

Mas será que a psicóloga seria a solução das indecisões da menina?


Mais uma vez nos deparamos com o principal tema da autora, a mulher e a consciência de sua existência. O interessante é que nossa personagem é uma adolescente, imatura em sua idade, e em busca de sua personalidade e cheia de perguntas.


Não queria esperar porque ficaria com medo. E assim não daria à doutora a impressão que desejava causar. Não pensar na entrevista, não pensar. Inventar depressa uma história, contar até mil, recordar-se das coisas boas. O pior é que só se lembrava da carta que mandara.


Apesar das indecisões e de estar em fase de amadurecimento, Tuda é forte, mesmo que ainda não saiba, e meio que se inspira na doutora. Ai estaria a solução de seus problemas, o que a enche de expectativas com o encontro entre as duas.

Mas, quantas vezes imaginamos situações e no fim nos deparamos com cenários completamente diferentes? 

Diante da decepção e em seus devaneios, a personagem se perde e se redescobre. E por si mesma chega a suas respostas.

O conto fala sobre o momento de descoberta ou redescoberta de uma pessoa e eu gostei muito. Pelo diferencial da idade da personagem, por suas indagações, que muitos já passaram, e como tudo terminou. 


“Cada pessoa é um mundo, cada pessoa tem sua própria chave e a dos outros nada resolve; só se olha para o mundo alheio por distração, por interesse, por qualquer outro sentimento que sobrenada e que não é o vital; o ‘mal de muitos’ é consolo, mas não é solução.”




CLARICE LISPECTOR - Todos os Contos

Editora: Rocco

Ano: 2016

Páginas: 656


Autora de romances e contos que figuram entre os mais emblemáticos da literatura brasileira, Clarice Lispector é considerada uma das mais importantes escritoras do século XX. Sua popularidade alcançou níveis surpreendentes nas últimas décadas, especialmente após o fenômeno da internet, mas sua figura e sua obra seguem exercendo sobre leitores o mesmo e fascinante estranhamento que causaram desde sua estreia literária, em 1943. Nesta coletânea, que reúne pela primeira vez todos os contos da autora num único volume, organizado pelo biógrafo Benjamin Moser, é possível conhecer Clarice por inteiro, desde os primeiros escritos, ainda na adolescência, até as últimas linhas. Essencial para estudantes e pesquisadores, para fãs de Clarice Lispector e iniciantes na obra da escritora, Todos os contos foi lançado nos Estados Unidos em 2015, figurando na lista de livros mais importantes do ano do jornal The New York Times e ganhou importantes prêmios, como o Pen Translation Prize, de melhor tradução. Agora é a vez de os leitores brasileiros (re)descobrirem por completo esta contista prolífica e singular.


Um comentário

  1. Ahhh, que incrível! Tenho vontade de ler tudo da Clarice, amo! Esse conto parece super legal. Amo como ela consegue transformar pequenas coisas em grandes reflexões. E esse com a adolescente indo na psicóloga deve ser bem profundo! Amei!

    Beijos,
    Isa
    taglibraryisa.blogspot.com

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