[Resenha] Os Bons Amigos

OS BONS AMIGOS

Hannah Kent
Globo Livros | 2017 | 352 páginas
Recebido em parceria com a editora

 Oiee!! Como estão?

A resenha de hoje é um confronto entre a fé, tradições e superstições. A história é fictícia, mas a autora se baseou em um fato real de infanticídio, ocorrido no século XIX, na Irlanda.

A trama se passa no interior da Irlanda entre os anos de 1825 e 1826, em uma vila onde as pessoas são extremamente supersticiosas e acreditam firmemente em maldições e feitiços. E é onde vamos acompanhar três mulheres, cujos pontos de vista se intercalam para contar a história. 

Nóra Leahy acabou de ficar viúva e agora restou  para ela cuidar de Micheál. Filho de sua única filha já falecida. A questão é que o garotinho era uma criança normal e hoje não fala, não anda e somente faz ruídos estranhos. Ou seja, ele se torna um fardo para a avó.

Nance é outra moradora da vila. Já bastante idosa é dona de conhecimentos de cura através da natureza, dom passado por "Eles", os Bons Amigos. Seres encantados que habitam a floresta. Seus dons dividem opiniões, para alguns ela ajuda, para outros não passa de uma farsa. Ainda mais para o novo padre da vila, disposto a alertar todos contra Nora.

E por fim, a criada Mary, contratada para ajudar a cuidar do menino e a única que demonstra preocupação e cuidado com ele.

Alguns fatos estranhos começam a acontecer na vila e as pessoas atribuem a culpa a Micheál, como se ele fosse uma maldição. E, acreditando que o neto de Nora, seja um "parasita" trocado pelos Bons Amigos, Nance convence as duas mulheres a realizar alguns rituais para trazer de volta a criança roubada.

As pessoas sempre têm um pouco de medo daquilo que não reconhecem.



Ao longo da leitura, a relação entre as três mulheres ganha proporções inesperadas, a fé e a crença de cada uma delas entra no ápice e o principal objetivo é a cura de Micheál. Nesse ponto é muito forte a demonstração do quanto essas crenças entram em um campo perigoso. Um verdadeiro conflito entre a tradição cristã e os modos pagãos. 

Outro ponto alto da leitura é o mistério em torno dos Bons Amigos. Entidades sobrenaturais, as quais são atribuídas vários acontecimentos no local. Até onde eles poderiam interferir na vida das pessoas? Micheál é mesmo um parasita? Ele trouxe todas as desgraças para a vila?

E é nessa crença que as três mulheres farão de tudo para reaver o espírito do menino e devolver o parasita aos Bons Amigos.

Essa realmente foi uma leitura que me prendeu do começo ao fim. Seja pela história em si, a curiosidade sobre as tradições, o que é verdadeiro ou não e também pela aflição do que aconteceria com a criança. 

A autora traz um cenário interessante do campo, no comportamento dos habitantes da vila e, sobretudo, no folclore e às crendices do povo irlandês. Tudo de forma bastante sutil, uma fantasia, com ares sobrenaturais e elementos culturais de uma Irlanda do século XIX. Perfeito!

Porém, ressalto que não é uma leitura dinâmica, embora traga um ritmo bom. O que prende e muito é a angústia e eu me senti assim em vários momentos. Fiz vários questionamentos também, a respeito dessas crenças, quando as coisas se tornam exacerbadas e perigosas e também a bondade e a crueldade humana. 

Nóra sempre se acreditou uma boa mulher. Uma mulher gentil. Mas talvez, pensou ela, só sejamos bons quando a vida torna fácil essa nossa bondade.

Enfim, uma narrativa poética e angustiante. Que nos permite ver até onde um ser humano pode ir através de suas crenças. 

Se ainda não leu, experimente!





15 comentários

  1. Vish! Mesmo sabendo que é algo fictício, eu não sei se teria estômago para ler esses rituais com o pobre menino. Ninguém pensou que podia ser mais psicológico o que o menino passava? E sim, é assustador o que pessoas podem fazer, ainda mais quando se lida com o desconhecido. =s
    Bjks!

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  2. Nunca tinha ouvido falar desse livro, mas a história parece muito boa! A premissa em si já é legal, e fiquei curiosa para saber mais sobre os tais "bons amigos". Gostei também da temática do conflito entre os valores cristão e pagãos, acho um tema muito interessante. A questão do elementos sobrenaturais é um ponto de interesse a mais, assim como a expressão do cenário cultural que você mencionou. Parece ser uma excelente leitura, colocarei na minha lista.

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  3. Mesmo sendo uma história de ficção, ela tem um fundo de verdade assustador. Achei o enredo forte mas bem interessante e me atiçou a curiosidade. Gostei!

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  4. Oiiii! Saudades de passear por aqui! Nossa, amiga, eu não conhecia essa proposta da Globo! Gostei da poesia misturada à magia que senti ao ler a resenha do livro. Mesmo que falar de crenças seja um tanto complexo mesmo! Mas gosto de me sentir saindo da zona de conforto com esses tipos de leituras! Bjs

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  5. Amei a premissa, sério. Eu gosto muito de contextos folclóricos e conheço essa ideia, só que é explicada que fadas trocam crianças de lugar e essas crianças que ficam são fadas (algo assim). Adorei a ideia e gosto de pontos de vistas intercalados se muito bem construídos.
    Peguei a dica!

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  6. Muito interessante essa
    resenha desse livro que traz
    um confronto entre a fé, tradições e superstições, como você mencionou. Penso que o fato da história ser fictícia, embora a autora tenha se baseado em um fato real de infanticídio, que ocorreu no século XIX, na Irlanda, traga esse diferencial para o livro.
    Gostei do que apresentou sobre essa história onde é possível
    acompanhar essas três mulheres e observar o ponto de vista de cada uma delas se intercalando para contar a história. Nunca li algo assim. Ótimo conhecer.

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  7. É incrível como essa resenha tem palavras tão bem elaboradas e consistentes. Parabéns pela ótima resenha!

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  8. Eu curti bastante dessa indicação, mas o que primeiro chamou minha atenção foi a capa do livro, perfeita e poética, a editora também me atrai em suas publicações, porque sou dessas que também compra livro pelo perfil da editora, e lógico, sua resenha está ótima e a proposta da obra em si é intrigante e estimulante pela mescla fé, tradições, superstições e pela cultura e geografia irlandesa.

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  9. Oiiie amiga!

    Eu não sabia da existência desse livro mas eu já estou curiosíssimo! Que sinopse mais instigante. Já vou adicionar esse livro na minha lista de desejados. Parabéns pelo post e pelas fotos lindas, amiga!

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  10. Oie, tudo bem? Ah, sou fascinada por esse universo de coisas sobrenaturais. Dá um frio na barriga não? Ainda mais quando sabemos que a história do livro foi baseada em fatos reais. Me fez lembrar de quando era criança e tinha medo da loira do banheiro. Tem também aquela história do espelho... muitas lendas urbanas para nos assustar. Um abraço, Érika =^.^=

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  11. Ah, adorei saber da ambientação na Irlanda. Gosto demais de histórias que envolvam cultura, religião de um lugar.
    A Irlanda tem histórias incríveis. Apesar de imaginar um desfecho meio tenso, se tratando de um infanticídio...

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  12. Que história mais sombria e interessante! Fiquei muito curiosa pelo desenrolar desse livro, acho que eh completamente meu estilo de leitura. Gosto bastante qndo misturam estes elementos de crenças em enredos sombrios e gosto tbm qndo cruzam mais de um personagem em um único objetivo.
    Parabéns pela resenha, não é fácil falar de forma tão clara de uma história cheia de detalhes assim.

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  13. Uau, ainda não conhecia esse livro e fiquei encantada com essa premissa, diferente de tudo o que já li.
    Gosto muito de ver até onde as pessoas vão pelas crenças, e muitas vezes chega a ser surreal o que fazem para defender o que acreditam.
    Eu nunca li nenhuma história que se passa na Irlanda, seria uma boa oportunidade para conhecer melhor esse lugar.
    Vou colocar na minha lista de desejados, e espero muito gostar 😍
    Beijos

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  14. Sou uma grande entusiasta de histórias com o tema baseado no século XIX apesar de saber (por conhecimento histórico prévio - leia-se “aulas de história”) que esses rituais não são nada bonitos nem simples e por isso consigo imaginar a angústia que deve ser ler algo descrito sobre isso. Fiquei interessada, vou com certeza procurar, afinal o que pode ser mais estimulante do que 3 mulheres da idade média desbravando as forças que estão além de nós ? Especialmente numa época como aquela...

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  15. Oi Fernanda! Eu vejo que é sempre muito difícil "falar" sobre livros e histórias que tragam mais uma lado religioso e místico. Eu tenho bastante dificuldade, talvez porque peco por não conhecer muitas abordagens.
    Esse ritmo sombrio chama bastante minha atenção. E acho que essa é uma obra que eu talvez goste muito se vier a fazê-la.
    Parabéns pela excelente resenha.
    Abraços

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