[Resenha] O Filho de Osum

O FILHO DE OSUM

Decio Zylbersztain
Editora Reformatório | 2019 | 192 páginas
Recebido em parceria com a Oasys Cultural



O filho de Osum é um romance histórico que retrata a cultura afro-brasileira e a imigração judaica no bairro paulistano do Bom Retiro, na década de 1950. 

Essa é uma história que tem por pano de fundo a Segunda Guerra Mundial. Começa na Holanda; primeiro ocupada pelos nazistas e depois tentando se reconstruir.

Que mundo fomos capazes de construir? As pessoas perderam o direito de pensar livremente, ter livros em casa pode ser perigoso. Vejo ideias e notícias falsas correrem de boca em boca até que viram verdade.

O personagem principal é Jos Litvak, um jovem holandês muito vaidoso, filho de um renomado professor universitário judeu e de uma mãe também muito culta.

Jos segue a vida na contramão de tudo que seus pais construíram e perderam com a guerra. É um rapaz desprovido de sentimentos nobres e de uma moral desprezível.

Ele se engaja em um movimento de resistência a ocupação da Holanda, mas não é comprometido, verdadeiramente, com os ideais do grupo. Parece apenas almejar fama, se tornar uma “lenda” da oposição aos nazistas. Está sempre mais preocupado com a aparência e relacionamentos amorosos.



Paralelamente aos trabalhos que realiza com o grupo, Jos intermedeia o envio de jovens garotas para o Brasil. Sob a promessa de uma vida melhor, promissora, elas são embarcadas em navios precários e sofrem todo tipo de abusos.

–Talvez sejamos diferentes na vida, mas na morte somos iguais. Esta mulher não tem passado. Quem saberá dela amanhã? Haverá sequer um nome a indicar quem está enterrado aqui? Será que os ossos serão removidos para dar lugar a outras mulheres sem passado?

Entre essas garotas está Anna Lea. Pessoa de personalidade forte e determinação. No entanto seus sonhos são destruídos e os planos alterados ao se deparar com as mentiras de Jos. Ela segue para o Brasil, é estuprada durante a viagem e obrigada a se prostituir no novo país.


Jos, mais tarde, se vê obrigado a partir também para o Brasil. E ironicamente é recebido e auxiliado pela mulher que tanto prejudicou: Anna Lea, que agora administra seu próprio prostíbulo. Filha de Oxum,  lhe oferece proteção por identificar nele traços desse mesmo Orixá.


Mas o rapaz dá indícios de que continuará sendo o mesmo canalha de sempre, só que agora estará debaixo dos olhos de uma mulher fortalecida e sagaz.

Qual será o destino reservado ao Jos?

Também percebo que os radicais demoram para compreender a natureza dos desvios morais. Aqueles que personificam as ideias tendem a manter uma burrice monolítica. Só o tempo poderá ajudar a compreender os discursos mentirosos dos líderes populistas.

O autor desenvolve as personagens com características muito próprias. Jos, com sua vaidade exacerbada, se torna cego e ganancioso, e não mede as conseqüências que tem na vida dos outros sua busca por dinheiro e vantagens. Já Anna Lea ainda conserva em sua essência o amor à literatura e o desejo de dividir os benefícios das histórias. Ela põe isso em prática!

Posso afirmar, sim, que a historia é cativante, pois a gente se identifica com as personagens, torce e sofre. Conhecer esse romance de Decio Zylbersztajn foi uma agradável experiência; e fico feliz por encontrar mais um escritor nacional que positivamente surpreende.




Um comentário

  1. Oi Jr!
    A resenha já começou me ganhando em cultura afro-americana e judaica, fiquei mais interessada ainda em saber que o personagem quer ser reconhecido como oposição aos nazistas.
    Eu nem consigo dimensionar como deve ser incrível esse livro com tanta história! Um verdadeiro aprendizado e amo livros assim. Parabéns pela resenha, adorei a dica!
    Abraços!

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