#12MesesComClarice | História Interrompida

Olá, amores!!

Vamos de Clarice?

Hoje é dia de #12MesesComClarice2019, projeto delicioso do qual participo com os blogs amigos: Café com Leitura, blog Sobre a Leitura e Leitura Enigmática.

O conto desse mês foi História Interrompida. Vamos falar um pouquinho sobre ele?





"Ele era triste e alto. Jamais falava comigo que não desse a entender que seu maior defeito consistia na sua tendência para a destruição. E por isso, dizia, alisando os cabelos negros como quem alisa o pelo macio e quente de um gatinho, por isso é que sua vida se resumia num monte de cacos."



Em História Interrompida, nossa narradora recorda uma paixão juvenil por um rapaz moreno, triste e alto. Ela por sua vez, jovem, perspicaz e romântica. Ele vestia escuro e ela branca e florida.

Nessa hora a narradora faz uma breve análise do comportamento de W., sua tendência para destruição e seus gestos. Indagando se aquilo a destruiria também?

Precisava reagir. Queria ver se o cinzento de suas palavras conseguia embaçar meus vinte e dois anos e a clara tarde de verão.

A narradora encontra-se na ânsia de fazer algo pela situação, pelos dois, ela tinha que fazer alguma coisa.

"Mas eu estava inquieta."




Nesse conto de Clarice mais uma vez encontramos una grande discrepância entre os personagens,  e  isso gera um conflito.

O texto, apesar de curto, possui dois tempos e a narradora, propositalmente coloca elementos que nos fazem pensar. 

Com efeito, homens como W... passam a vida à procura da verdade, entram pelos labirintos mais estreitos, ceifam e destroem metade do mundo sob o pretexto de que cortam os erros, mas quando a verdade lhes surge diante dos olhos é sempre inopinadamente

Como na maioria dos contos de Clarice, o foco está na narração dos sentimentos e dos acontecimentos e não na construção em si dos personagens, por isso não temos muito elementos nessa parte, não fica claro também, se é um casal ou não. Somente a preocupação da narradora de tirar o rapaz do estado em que se encontra.

Por fim, ela toma uma decisão e junto um acontecimento que não posso revelar.

É um conto mais complexo, que vai além da compreensão e também bastante poético. No final há a indagação do vazio, do demorar em algumas atitudes e daquilo que trazemos na memória e que, às vezes, nem faz mais sentido pensar a respeito, pois já ficou para trás.

E repentinamente a história se partiu. Nem teve ao menos um fim suave. Terminou com a brusquidão e a falta de lógica de uma bofetada em pleno rosto.



CLARICE LISPECTOR - Todos os Contos

Editora: Rocco

Ano: 2016

Páginas: 656



Autora de romances e contos que figuram entre os mais emblemáticos da literatura brasileira, Clarice Lispector é considerada uma das mais importantes escritoras do século XX. Sua popularidade alcançou níveis surpreendentes nas últimas décadas, especialmente após o fenômeno da internet, mas sua figura e sua obra seguem exercendo sobre leitores o mesmo e fascinante estranhamento que causaram desde sua estreia literária, em 1943. Nesta coletânea, que reúne pela primeira vez todos os contos da autora num único volume, organizado pelo biógrafo Benjamin Moser, é possível conhecer Clarice por inteiro, desde os primeiros escritos, ainda na adolescência, até as últimas linhas. Essencial para estudantes e pesquisadores, para fãs de Clarice Lispector e iniciantes na obra da escritora, Todos os contos foi lançado nos Estados Unidos em 2015, figurando na lista de livros mais importantes do ano do jornal The New York Times e ganhou importantes prêmios, como o Pen Translation Prize, de melhor tradução. Agora é a vez de os leitores brasileiros (re)descobrirem por completo esta contista prolífica e singular.





Não deixem de passar nos outros blogs participantes do projeto e conferir as opiniões.








5 comentários

  1. É um conto curto, mas extenso de reflexões e forte. Confesso que fiquei surpreso da forma que Clarice expôs seu sentimento na narração e a forma de como conduziu no conto, ficou perfeito. E concordo plenamente com o que escreveu no final sobre as memórias que levamos conosco. Parabéns pela bela resenha.

    ResponderExcluir
  2. Olaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
    Pode ser curto, mas não tira a sua intensidade. Que eu saiba nunca li nada de Clarice, mas parece bem interessante:)
    Beijokitaz




    www.devaneiosdemissl.com

    ResponderExcluir
  3. O conto narra uma situação complexa, pois a vontade de mudar nem sempre depende de outras pessoas, mas sim do própria pessoa acometida pelos sentimentos ruins, no caso a autodestruição. Clarice é uma mestra na arte de discorrer sobre os sentimentos humanos.

    ResponderExcluir
  4. Oie, esse é um dos meus contos favoritos de Lispector por girar em torno de um personagem apresentado apenas por W., que é possuidor de um amor próprio exacerbado... que se assemelha a um Narciso às avessas: ele se conhecia. Já a namorada nem nome tem e é proposital.
    Para mim, W., é uma espécie de código a ser decifrado pela namorada e por mim, na condição de leitora. Adorei isso e a maneira como emblematiza a própria indagação em torno da complexidade da vida e dos mistérios da morte.
    O caráter enigmático do conto está expresso também no modo de caracterização da personagem feminina.

    Ps. Deu para notar que AMO esse conto? rs

    bacio cara mia

    ResponderExcluir

Não saia sem deixar um recadinho pra nós!