[Resenha] Os Trabalhadores do Mar

OS TRABALHADORES DO MAR

Autor: Victor Hugo | Ano: 2004 | Páginas: 704
Editora: Cosac Naify | Adicione ao Skoob



Tive o prazer de ler esta grande obra da literatura mundial pela tradução de Machado de Assis e complementada pela poeta Marília Garcia, no maravilhoso projeto da Cosac Naify. É uma edição de bolso com gravuras feita pelo próprio Victor Hugo; vem acondicionado num box bastante resistente e charmoso.

Os Trabalhadores do Mar é quase uma poesia sobre a vida, os costumes e a natureza da ilha de Guernesey, onde o autor viveu por muitos anos num exílio auto infligido. Na observação de todos esses elementos, Victor Hugo desenvolve a história de Gilliat, sua sofrida trajetória a margem daquela sociedade pela discriminação.


Gilliat era estranho àquele ambiente; chegou a ilha ainda pequeno, mas fora morar numa casa muito mal vista. Com fama de mal-assombrada e índole pagã sentiu todo aquele folclore local recair sobre suas costas, atribuindo-lhe, compulsoriamente, uma personalidade desprezível. Isso lhe fez um ser introvertido, avesso às cerimônias e costumes da ilha. Não ia à igreja, nem delongava as conversas.

“É uma casa mal-assombrada. O diabo aparece lá durante a noite.A casa, como o homem, pode tornar-se cadáver; basta que uma superstição a mate. Então é terrível.

Mess Lethierry era um mercador que transportava os mais diversos gêneros do continente à ilha. Era inovador e empreendedor, tanto que mandou construir uma grande embarcação, que apelidou de Durande, para aumentar o fluxo de mercadorias do local.



Pela religião e superstição os moradores da ilha conduziam seu modo de pensar, as conclusões sobre os outros eram pautadas em critérios nada tangíveis do ponto de vista racional. Por isso criticaram a iniciativa do grande barco de Lethierry, e também abominavam a maneira de ser de Gilliat.

O novo era assustador, e Gilliat tinha entendimento sobre processos naturais que permitiam técnicas mais eficientes sobre coisas até corriqueiras; então era chamado de feiticeiro. Lethierry queria introduzir a tecnologia para aumentar a eficiência nos transportes da ilha.

Para Lethierry foi mais fácil ser aceito, pois a vida dos moradores de Guernesey melhorou por suas mãos. Houve mais abundância de tudo que as pessoas dali necessitavam; ele era rico, também. Tinha sobre sua tutela a bela sobrinha Déruchette, que encantava a todos, e facinou Gilliat.

Mas Gilliat era outra história. Estigmatizado por sua casa, suas roupas, sua conduta e como se portava, não haveria chance para ser notado. Estava fadado ao desamor e à solidão.

Eis que uma oportunidade, em meio a milhões de desventuras, apresentou-se àquele homem tão simples: o navio Dudande naufragou! Lethierry em desespero chorava e dizia-se arruinado; seu sofrimento comoveu Déruchette. A sobrinha então assumiu o compromisso de se casar com aquele que recuperasse a embarcação.



Gilliat não teve dúvida e partiu decidido a recuperar a Durande e conquistar o amor de Déruchette. Ele era obstinado, e tinha a seu favor conhecimento e inteligência, que eram atributos desconhecidos daquela sociedade tão fechada, já que não lhe davam a oportunidade de ser aceito.

A empreitada de resgate era colossal. A embarcação estava presa entre dois grandes rochedos e poucos eram seus recursos em termos de ferramentas. Mas seu intuito era tentar tudo sozinho, pois a mão de Déruchette havia de ser sua.

Victor Hugo é primoroso em seu texto, soando, em muitos momentos, como se fosse uma suave e harmoniosa canção entoada pelas páginas do livro. Ele não só conta uma história de amor, mas o desejo de ser amado; a marginalização injustificada de um homem que tinha muito a oferecer, mas, sendo ignorado e trajado de obtuso, vivia em mundo tão restrito quanto o dos limitados moradores da ilha.

O autor fala muito da natureza, da geografia daquele lugar tão belo e hostil. Reflete sobre a vida e suas nuances, sob os aspectos e os fenômenos naturais. Aspectos que lhe causam conflitos, mas não devem ser deixados de lado.

É uma leitura imprescindível para quem quer conhecer e absorver as ideias dos mestres da literatura, além de ser um texto altamente instrutivo.



5 comentários

  1. Infelizmente nunca li nada de Victor Hugo. Mas tenho uma lista de clássicos a serem lidos, e nela está Os Miseráveis. Não conhecia esse livro do post, mas me interessei pela história, me parece um tema inclusive atual no sentido de que a sociedade ainda tende a deixar de lado quem ela considera diferente e não se encaixa nos padrões estabelecidos. Enfim, entrou para a lista de leituras também.

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  2. Oie!
    Eu ainda não li nado do Vitor Hugo, mas fiquei fascinada com o que você contou sobre a história, parece ser do tipo que nos puxa pra dentro das páginas e nos faz pensar em todos os detalhes.
    Até então só Os Miseráveis estava na lista de desejos, mas esse acaba de entrar (ai minha lista infinita de desejos literários kkk). E achei essa edição da Cosac Naify fora de série! E amei a quote que destacou! <3
    xoxo

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  3. Oi Junior!
    Que bacana sua resenha, adorei. As fotos também ficaram ótimas!
    Os livros da Cosac são incríveis e deixaram saudade, eu também adoro estas edições lindas.
    Não li ainda, mas já coloquei na minha lista
    Beijos

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  4. Que livro espetacular! Que história intensa e trágica, como um bom clássico sempre é rsrsrs!! Amei a resenha!

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