[Resenha] Poemas ao Desabrigo

POEMAS AO DESABRIGO

Autor: Raul de Taunay | Ano: 2016 | Páginas: 112
Editora: 7 Letras | Adicionar ao Skoob
Onde comprar: 7 Letras


Em parceria com a Oasys Cultural, o Conduta Literária tomou a responsabilidade de fazer a resenha do livro de poesias de Raul de Taunay. E grata foi a experiência, por mim vivida, ao me deparar com a leveza dos versos dessa obra.

LAMENTARES

O tempo passou
E eu não consegui mudar
O que no fundo sou:

Uma ventania
Que venta sozinha,
Um deserto oco
Que não silencia,
A desolação tardia
Que esconde na rima
O acre amargoso
Da vida contida.

Quisera encontrar os anjos,
Ouvir que o meu caso
Não é exclusivo.
Escutar que há outros
Em busca de abrigo.
Saber que, enquanto
Uns morrem sofridos,
Nas torres de vidro
Se vive escondido.

As lágrimas tomam-me o tempo,
O choro traz-me o fermento;
E chego ao entendimento
De que, neste desdobramento,
Torno-me inteiro, apesar dos pesares,
Ileso, intato, não obstante os vagares,
Guardião de meus versos, pelos lugares,
A juntar os meus cacos, sem lamentares.


Raul de Taunay nasceu em Paris, França, em 23 de março de 1949 – brasileiro de acordo com o artigo 129 da Constituição de 1946. É o segundo de sete filhos do diplomata de carreira brasileiro, e professor, Jorge d’Escragnolle Taunay, casado com Mary Elizabeth Penna e Costa d’Escragnolle Taunay, igualmente professora universitária. Recebeu na infância uma educação qualificada e abrangente, aprofundada pela vida nômade que os pais levaram mudando-se a cada quatro anos, aproximadamente, de casa e de país, entre Europa e Estados Unidos.



ILUSÕES
                 
Amo-te, ó verso, dos trovões e precipícios,
Mundo deste ofício que me arrasta de roldão;
Um aroma, um sentido, me embriaga de início
No vazio do desvio a emergir na contramão.
Das fontes a estalar aos córregos carregados
Sou todo um palpitar de clarões ensolarados;
- Como? Porquê? - indaga o peito amotinado
Ao perceber no fuzuê seu coração enfeitiçado.
Doloroso o arrepio das estranhas sensações:
- É o poeta um esgrimista a fatiar intuições?
Um dia compreenderei o tropel das emoções
Que me leva na garupa das perdidas ilusões.


Por sua carreira de diplomata, Raul de Taunay insere na poesia que compõe uma série de elementos fornecidos pelos mais diversos lugares por onde esteve. A observação e a percepção aos olhos do poeta, de cada ambiente em que vivera, são transferidas para papel na singeleza de suas palavras.

Em seus versos são traduzidas as sensações e o seu entendimento sobre o momento e os fatos de cada tempo. Busca até mesmo um tom crítico sobre as mazelas do homem sobre o homem, ou sobre a natureza.



SONETO AO RIO DOCE

Inclinado aos pés da barragem fendida do Fundão,
Estouro, torturado, deste assombro na região;
É o clamor de um povo, que tateia sem saída,
Afundado em lama infame, rejeitos de ignomínia.

Meu coração se revolta e a alma pasma aviltada,
Ao assistir à enxurrada que desce na terra amada;
Um pesadelo? Um abalo? A natureza sufocada? Nada!
Ilhado com esta mágoa, vejo o lodo que se alastra.

BHP, VALE, Samarco… tantos nomes, um só açoite;
Quem asfixiou o meu rio certamente não era doce
- Amarga morte, desgrenhada sorte - , agora é a fome.

Pois na argila venenosa o peixe morre como o homem.
Sozinho, desejo gritar, com a sede que me consome:
- “Justiça! Venham ajudar! É hora de limpar a fonte!” 

Mas também escreve sobre o amor, sobre paixão; busca situar-nos no tempo e espaço, diante do que sente estando distante da pátria de sua coração. Não teme mostrar-se e revelar seus anseios ou aspirações, mas também compartilhar suas experiências, seus desejos, suas constatações.

Raul de Taunay desfila por diversos temas e constrói um arcabouço sutil, mas variado, de uma poesia completa. Traz o novo e o moderno, nos presenteando com uma obra agradável e sensível aos mais relevantes assuntos.

Recomendo!

5 comentários

  1. Oi Jr.
    Adorei o post
    Estou muito curiosa para conhecer o livro do Raul de Taunay, pois as indicações da Oasys são sempre ótimas.
    Gostei muito das poesias e da trajetória do autor
    Já coloquei na minha lista.
    As fotos ficaram ótimas também.
    Bjs

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  2. Não conhecia esse poeta, mas gostei imenso das poesias. A primeira, em especial, calou forte cá dentro. Muito bom quando a poesia se mistura a derme e faz aquela pausa silenciosa dentro.


    Bravo.

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  3. Ei! Tudo bem?

    Não conhecia o autor, mas adorei a forma que você nos apresentou ele e sua obra. Adorei conhecê-lo e saber um pouco de sua vida enquanto lia alguns poemas de sua autoria. Fiquei interessada, adoro poesias :)

    Beijos!
    http://www.as365coresdouniverso.com.br/

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  4. Oi Jr,
    Adorei saber mais sobre o autor e sobre de onde ele tira suas inspirações. Preciso ler mais poemas, achei lindos os trechos que você selecionou, principalmente o "Ilusões".

    Bjokas da Elo!
    http://cronicasdeeloise.blogspot.com.br/

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  5. Quem diria que um diplomata teria tanta sensibilidade literaria não é?!
    Amei os versos e saber mais sobre o autor. Fiquei muito curiosa para ler mais!

    osenhordoslivrosblog.wordpress.com

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