[Resenha] O Conto da Aia

O CONTO DA AIA

Autora: Margaret Atwood | Ano: 2017 | Páginas: 368
Editora: Rocco | Adicione ao Skoob



Narrado em primeira pessoa, por Offred, O Conto da Aia nos mostra a vida na República de Gilead, após o país sofrer uma revolução teocrática e ser governado militarmente por radicais cristãos. 

Os novos governantes, regidos por uma extrema e exagerada interpretação do Velho Testamento, passam a excluir as mulheres da vida social, dividindo as mesmas em castas, com funções bem definidas. 

Nesse cenário teremos as Marthas, responsáveis pelos trabalhos domésticos; as Esposas, que administram o lar; as Aias, com a função de reproduzir; e as Tias, que são senhoras que educam as mulheres para a servidão e a submissão. Em outras palavras, a mulher ocupa o lugar mais baixo na sociedade, sem direito a opinião, sentimentos ou mesmo a alfabetização. 


"Espero. Eu me componho. Aquilo a que chamo de mim mesma é uma coisa que agora tenho que compor, como se compõe um discurso. O que tenho de apresentar é uma coisa feita, não algo nascido."

Por tudo isso, O Conto da Aia é uma leitura muito forte e incômoda, causando um imenso desconforto. E o que mais revolta são os nítidos traços com a realidade com a qual vivemos.




Offred, nossa narradora, é uma Aia e vai nos contar seus dias na casa do Comandante. Ela está ali com a função de gerar um filho e  vai dando ao leitor a visão de todo horror de sua limitada vida. Ela não tem direito de escolher sua comida, de sair de casa por vontade própria, somente quando é permitido e não pode falar com ninguém, não pode nem ao menos olhar para os lados, essa é sua realidade e todas as mulheres que usam roupas vermelhas, e chapéus que cobrem seus rostos, as Aias. Algo muito difícil de imaginar.


"Nenhuma esperança. Sei onde estou, e que sou, e que dia é hoje.. Esses são os testes, e estou sã. A sanidade é um bem valioso; eu a guardo escondida como as pessoas antigamente escondiam dinheiro. Economizo sanidade, de maneira a vir a ter o suficiente, quando a hora chegar."

Em meio a seus relatos, Offred tem flashbacks de sua vida passada, onde ela vivia uma vida normal, como uma mulher da época, com seu marido e sua filha. E essas partes foram umas das mais doloridas para mim, pensar na vida da protagonista antes, em sua família e em tudo que viveu antes desse absurdo todo.

As coisas tomam um rumo diferente, quando Offred recebe um aviso que o Comandante quer vê-la em segredo, o que seria totalmente contra as leis e poderia acarretar consequências ruins para a Aia, ser presa e até mesmo executada. Mas, como não tem como negar, resta a Offred ir e ver se esses encontros podem ajudá-la ou não.




Eu estava bastante ansiosa para ler o livro e com altas expectativas, e não sai decepcionada da leitura. A escrita da autora me cativou e me prendeu, dentro de uma enredo fortíssimo, passado de forma lírica, repleto de simbolismos e metáforas.

Como toda distopia, esta também denuncia verdades desconfortáveis sobre a nossa sociedade, como a cultura do estupro, a culpabilização das mulheres pela infertilidade, a dominação masculina e muitas outras. O livro inteiro demonstra todo o trabalho minucioso da autora para mostrar esse cenário e o alerta diante de tanto extremismo.

O Conto da Aia foi uma das melhores leituras que fiz dentro do gênero, mexeu com todas as minhas estruturas e me deixou terrivelmente chocada. É estarrecedor a parte na qual Offred descreve seu quarto, ressaltando a falta de um ventilador de teto para que as Aias não pudessem se enforcar, já que o suicídio era uma saída frequente para muitas dessas mulheres.


"Mas é nele que estou, não há como escapar disso. O tempo é uma armadilha e estou presa nele. tenho que esquecer meu nome secreto e todos os caminhos de volta. Meu nome é Offred, e aqui é onde vivo."

O livro é daqueles que temos tantas coisas para discutir, mas é difícil falar sem contar muita coisa, por isso preciso parar por aqui, só posso dizer que é uma história absurda e assustadora, uma realidade bastante cruel e inaceitável. O final deixa pontas soltas, e acho que foi meio proposital, para nós mesmas pensar à respeito.

Enfim, o livro é um soco no estômago, uma leitura para incomodar e mexer com nossas emoções. Um doloroso cutucão no leitor, servindo de alerta e reflexão para muitas questões que são muito reais.

Leitura obrigatória para todos!



4 comentários

  1. Boa tarde:- Passandop, lendo e gostando do conto.
    .
    * Teu coração, ladeado por frios elos entrelaçados *
    .
    Desejando um feliz fim de semana.

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  2. Oi Fê!
    Estou ensaiando para ler este livro!
    Adorei sua resenha e fiquei com mais vontade ainda de ler
    Adorei as fotos também
    Bjs

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  3. Oi Fernanda, buongiorno.
    Eu li esse livro duas vezes e não gostei, não pela distopia e muito menos pela verdade impressa. O livro foi escrito e lançado na década de 80 e em pleno século XXI soa indigesto perceber que muito da ilusão ali descrita está a se realizar. É incomodo, concordo.
    Mas, enquanto a idéia no livro é 'interessante', a escrita da autora e sua mania de criar guinchos no final de um capítulo e não dar continuidade no capitulo seguinte, me irritou. Nossa, precisei ir e vir porque achei que tinha deixado passar alguma coisa. E terminei a leitura com várias perguntas sem respostas. Enfim, o livro virou sensação por causa da série e todo mundo quis ler. O que eu acho ótimo. Qualquer surto de leitura me faz feliz, mas eu li antes do fenômeno e não voltaria a ler se dependesse apenas de mim, mas foi uma proposta do grupo de leitura do qual participo e fiquei feliz ao perceber que não fui a única a perceber esses problemas de narrativa. ufa

    bacio e um bom domingo para você.

    Ps. Leitor compulsivo é um bicho muito chato, eu sei. rs

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  4. Oi,este livro parece ser interessante me lembrou um seriado que tem no Netflix agora esqueci o nome Rsrs. Infelizmente ainda hoje muitas mulheres são tratadas desta forma lamentável. Bjs😉🌿

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